sábado, 30 de julho de 2011

O Segredo de Toledo

O Sol raiou nublado num dia de festa.

As nuvens em formato de bolo e olhos-de-sogra enfeitavam o céu daquela cidade.

Parecia que o seu aniversário seria um sucesso.

O telefone, em seu primeiro toque do dia, revelava que algo estava estranho.

Toledo pulou da cama como um atleta de salto triplo em plena atividade Olímpica. Antes que desse o segundo toque, o aparelho foi calado pelos punhos treinados do aniversariante.

- Sim!

- Alô!

- Não, pode falar. O que deseja?

- Desejo que o seu aniversário seja um fiasco... Que o senhor tenha um péssimo dia... Também quero que você tenha muita tristeza, muito azar e que lhe falte saúde pelo resto de sua vida... Esses são os meus encarecidos votos para você, meu rapaz.

- Ah, obrigado... Pro senhor também. Abraços.

E voltou para a cama.

Realmente este dia prometia ser inesquecível. Após receber seus primeiros parabéns, Toledo terminava a soneca num ronco de felicidade.

Antes que o despertador atrasasse como em todos os dias, suas olheiras indicavam que preparar um bolo de aniversário durante a madrugada não fazia muito bem a saúde.

Numa encruzilhada próxima do seu trabalho o rapaz conseguiu todos os ingredientes para a guloseima.

De 7 dias era a vela que completava um dos momentos mais inesquecíveis que ele viveria...
...Se vivesse até o horário da festa.

E assim ele termina a primeira página de sua biografia deixando todos os leitores curiosos.



quarta-feira, 20 de julho de 2011

Movimentos

Enquanto a Terra se esquiva do sedentarismo todos os dias

Muitos não seguem o “pique” do planeta.

A cada rotação é comum alguns ficarem de ponta-cabeça

Esperando que os seus objetivos caiam do céu.


Como não caem assim tão facilmente

Ficam desolados na companhia da chuva,

Do granizo, da poeira e de algumas estrelas

Que uma vez ou outra mergulham sob o solo.


Há ainda aqueles que pegam carona na translação

Sonhando inertes que tudo gira em torno de seu centro

Pobres coitados da Síndrome Solar

Para realizarem seus sonhos muito há de garimpar


Não precisa ser tão criativo, original ou genial

Imitar o planeta já basta

Criar hábitos, disciplina e comprometimento

Pode ser a solução


Siga em frente

Sempre



terça-feira, 12 de julho de 2011

Moinho

Já devia ter sido moído feito cana
Até houve tentativa
Houve como
Mas nada foi feito

Despedaçar o passado não é assim tão fácil
Pedaços de impureza ainda resistem
Bagaços do que passou
Se juntam ao gosto do sumo que ainda é sentido

Já devia ter sido moído feito grão
Se transformado em qualquer coisa
Menos em sua própria obra-prima mais uma vez
Sem graça se transformar no que já era

Mas o passado ri
Diante da preocupação do presente
Em viver um futuro melhor.



quarta-feira, 6 de julho de 2011

O Colecionador

Nasceu

Conheceu o médico e a mãe 
Ensaiou um olá para as enfermeiras
Depois foi apresentado ao seu pai

A partir desses acontecimentos tão triviais
Percebeu o quanto era divertido conhecer

Professoras, colegas,
tios, primos e avós
Todos  cabiam em seu baú

Quando perguntado o que queria ser quando crescesse
Sem titubear dizia:
"Colecionador
... de pessoas"

 E seguiu em seu intento

Namoradas coloriam seu álbum
Amigos passavam como vento
Conhecidos se amontoavam em agendas antigas
Números de telefone adornavam a parede do seu quarto

Conhecia todos
Ninguém o conhecia

Envolvimentos profundos
[com duração máxima de 3 minutos]
eram os seus preferidos

Decidiu ser o maior dos colecionadores
Em diversos cursos ingressou
Novos professores, colegas, paqueras, fiscais, funcionários
Mais gente para ser adicionada à sua complicada planilha de pessoas.

E o álbum de figurinhas foi crescendo.
Atravessou fronteiras.
Até o Facebook ajudava na tal missão.
Que rapaz determinado!

O tempo passou.
Conheceu o chefe
O Sócio
A Noiva
O Padre
A Esposa
O Sogro
Os Netos
...

Conhecia todos
Ninguém o conhecia
Nem ele mesmo

E conheceu o coveiro.