quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Como é simples o amor

Quero falar de amor.

O amor é simples.

Qualquer um pode falar dele.

Ele não liga onde vai estar; apenas se importa se vai estar.

Cabe nas palavras, nos espaços, nas falas, nas pausas, nas respirações (principalmente as mais ofegantes).

Não entra em discussões.

Às vezes as palavras entram.

Aproveitando-se do seu dom gramatical desatam a falar... a pronunciar e a escrever, porém esquecem que muitas coisas são ditas sem dizer.

O amor é assim:

Está presente onde há palavras, está presente onde há espaços, onde há amizade, onde há gentileza, onde há nobreza, companheirismo, bondade, sorrisos, olhares, alegria, caridade, natureza, fé

E está ausente onde não há simplicidade.



A Volta

Posso não ter escrito o que já escrevi

Como também posso não ter dito aquilo que sempre falei

Sem dúvida deixei de repetir o que sempre fazia

Não comentei o que pra mim já era obvio

Devo até ter me lembrado do que já tinha esquecido

Ou esqueci o que para mim era tão fácil lembrar

Dias passaram dentro de um mês que eu nem lembrava que existia

Tampouco freqüentei o pequeno calendário que no mês passado havia

O “há tempos” para mim foi ontem

E quem sabe o hoje chegue em breve, num próspero futuro que nos espera.

Voltei

Não li, não reli, não mexi, remexi, não corri, nem andei

Mas se uma certeza quiseres:

Ah, eu amei!



quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Títulos

Chega em casa; abre a geladeira; come tudo que encontra; vai pra sala; senta-se no sofá, fecha a geladeira; encontra um biscoito ainda não comido totalmente; volta pra sala; concentra-se e começa a escrever.
E o texto de hoje é...

Ok, ok... é uma crônica! Desde já, preparem-se: daqui pra frente vou berrar e espernear como o Jabor. “Oh, Senhor”, resmunga o encurralado leitor (que na verdade nem existe ainda).

Título: Crônica
Palavra, vírgula, palavra...

Não, não. Na verdade esse título não condiz com a história: aquela da velhinha que sofre de doença crônica. “Oh dó”, balbucia o triste e encurralado leitor”.

Título: Doença Crônica
Palavra, vírgula, palavra, ponto de seguimento...

Alto lá! Não é nada disso! Nem crônica, tampouco doença crônica. Tudo não passa de uma história cômica, com início, meio e fim. “Que perda de tempo”, pensa o triste, encurralado e agora pensativo leitor.

Título: História Cômica
Palavra, vírgula, palavra, ponto de seguimento, parágrafo...

Que previsível! Estrelato literário escrevendo historinhas cômicas? Impossible! Falta originalidade. “Neologismos onde estão vocês”, se questiona o leitor já cheio de adjetivos.

Título: História Mômbida!
Palavra, vírgula, palavra, ponto de seguimento, parágrafo, ponto final.



Sampinha

Sampinha, querida!
Pra que pensar em te deixar
Se já me deixaste bem antes

Não, não volte atrás
Oh, gatinha nublada!
Não chores além da garoa já tão precipitada
... Não a use como lágrimas

Sim, eu devo confessar:
Há uma nova, mais ensolarada, prestes a tomar o seu lugar

Mas para essa nova, um conselho:

Não me prenda
Não me esfrie
Nem me cale

Anotou tudo?

Mais uma pra você anotar:

Fronteiras, para mim, sempre mudam de lugar.


terça-feira, 20 de julho de 2010

Sexto Pedaço

Ele a conhecera em Fevereiro daquele ano
Quando ela o notara Abril já se fechava

Longe ficaram...
Trocaram pensamentos
Sonhos trocaram também
Mas longe continuaram...

Decidiram trocar algo mais legível para aquela situação
Emails
Um atrás do outro forram amarrotando as caixas de mensagens.


Do outro lado de onde ele estava, ela morava
No oposto de onde ela andava, ele residia

Cruzes! Eles não se cruzavam.

Num hiato entre um email e outro, ele relia todas as mensagens que dela recebia
Cada mensagem enviada era chamada por eles de “pedaços”
Pedaços deles mesmos

Mas o sexto pedaço que ele preparava era especial:

Abrindo aspas daqui pra frente...

Já é o sexto pedaço de mim que te envio. Confesso que eu to ficando bem viciado em tudo isso.
Quando cada pedaço de mim chega ao destino parece que eles se sentem em casa na sua presença.
E não pense que eu não me comunico com o primeiro, segundo, terceiro, quarto e quinto pedaços meus enviados anteriormente a você. Eu me comunico, sim
Semana passada me comuniquei com eles, todos disseram que estão com saudade de mim, porém que não largariam sua presença de forma alguma, já se habituaram a você, ou seja, são doidinhos por você, assim como o dono deles.
Nossa, meus pedaços de mim estão cada vez mais indo pra ai, o que sobrará de mim? Acho que vou me enviar por inteiro, e quando ai chegar, você terá que juntar cada pedacinho... e eu me tornarei novamente um só pedaço... pronto para te amar.

... A contra gosto fechando aspas.



quarta-feira, 14 de julho de 2010

Estranho Baby

Quando eu nasci não veio nenhum anjo safado dizendo que eu ia me dar mal etc e tal...


“Opa, que sorte, me dei bem” foi o que rapidamente pensei.

Mas também não lembro de angelicais mocinhas me pegando no colo e preparando colheradas de farinha pra colocar na papinha.

“Opa, que azar, me dei mal” velozmente raciocinei.

Hummm.... havia algo estranho!


Lembro-me desse “hummm” como se fosse anteontem (logo, não me lembro direito).

Seria eu um baby recém nascido que teria um futuro esbelto pela frente?

Ou

Seria eu um baby recém nascido que nem futuro pela frente teria?

“Nossa, que triste” exclamei, sem exclamação.

Naquela cidade tão linda e tão bela, cercada de terra por todas as partes, teria nascido o mais próspero dos filhos ou o mais esquecível dos seres de Marte?


Confesso que “Marte” só foi pra rimar... mas problemas não há.... é melhor aproveitar as pobres rimas de agora do que esperar poesia na hora do bebê aqui ir embora.

E a despedida da fase da Maternidade não foi nada poética. Tentei ainda levar uma prosa com a enfermeira, mas nada de papo, eu teria realmente que deixar minha velha morada de algumas horas.

Eu era (ou sou), [não-sei-muito-bem-quem-sou-eu-na-narrativa] um baby muito estranho. 

Minha perna direita era mais forte que a esquerda...

Que loucura mais louca, pensei eu.

Mas acho que é porque eu tinha malhado um pouco na barriga da Mamys.

Nossa, mas e essa perna direita? É mais comprida do que a outra...

Desesperei-me tanto que um parágrafo único, inteirinho para ele, esse desespero merecera.

Ah, desculpe-me. Nem sei o que falar agora.

(parágrafo de vergonha)

(parágrafo de vergonha II)

Na verdade, percebi ....

(parágrafo de vergonha III)

SIM, EU PERCEBI! Não era bem a perna esquerda que os meus olhinhos inéditos tinham acabado de ver...

Ah, vocês entenderam...

Mas como sou um baby educado , minha boca ainda não está treinada para falar esse tipo de coisas. Nem dente eu tinha.

Mas o que importa é que eu tinha nascido e finalmente poderia dar o ar das graças nesse novo mundo.

Se eu nasci para ter um futuro esbelto pela frente provavelmente saberei mais tarde...

Se eu nasci para nem futuro ter nessa vida também saberei...

Em breve voltarei a escrever um pouco da minha vida pós-nascimento.

Beijos do Baby!


sábado, 12 de junho de 2010

Te Pintei

Pincelada de tinta conhecida...

Te pintei

Com a sobra da última pintura

Inacabada

No torto quadro

Pendurado

Suspenso por enferrujados

Que seguravam

O que não suportei

Na parede da casa alugada

Que nunca foi minha

Nem quando lá

morei

Dali em diante

Eu sabia

Percebia

Que mesmo pintando um novo quadro

Por cima daquele que já existia

A minha tinta nunca alcançaria

A textura dos outros dias

Resquícios de tintura antiga

Permeavam a aquarela

Que em sonho eu pedia

Para que um dia

Fosse minha.

Sem rasuras de outrora

Sem rabiscos

Sem nada.

Um quadro branco

Uma tela pura

Era o que eu desejava encontrar

Quando a tua paisagem

Se coincidiu com o meu olhar.


Relatório

Por que ela inventou de sair hoje?
Não tá vendo que a chuva tá forte...
É... passou, sim. Mas ela pode voltar.

E se voltar, você pode ficar doente,
gripada,
pneumonia,
enxaqueca,
sei lá.

Tá, mas não demora muito. A rua tá perigosa esse horário.
Só vão vocês duas?
"Será que vai mais alguém"?

Não, tudo bem, se divirta.
Ah, é... se divirta.
Eu vou ficar aqui trabalhando ...
"...neste relatório que eu inventei de criar só porque você inventou de sair".


Ah!
Dois encontros,
Ah!
Alguns olhares
e poucas dezenas de beijos impulsivos
não parecem me dar o direito de decidir algo em seu dia-a-dia.

Talvez eu precise te dar mais carinhos, mais afagos, mais beijinhos,
"Claro, sem parecer dengoso ou carente demais"
... Para aí então eu ter o direito de pelo menos decidir como será sua noite de Sexta-feira.

Nossa, hoje é Quarta e você decidiu ir nessa festa ridícula,
baladinha sem graça,
lotada de machos sedentos por fêmeas dançarinas
... De Salsa.

Desculpe, eu extrapolei.

Mas em plena Quarta-Feira percebo
que falta muito pra chegar na sua Sexta
Não, não. Não estava falando com você, meu bem. É que eu tô escrevendo o relatório.
Já ta pronta? Tá, sim. Tá bonita. "Até demais"!
É... divirta-se!?
É... É isso. "Eu acho".

Ela não me chamar pra ir com ela...
Eu também nao queria, nem me ofereci.
Não quero que ela pense que eu sou grudento
Ainda mais uma mulher como ela,
que dá vontade de grudar.

E ainda tá muito no início pra ficarmos com discussõezinhas bobas.
A gente não tem nada mesmo...

Oh!
Foram apenas dois encontros.

Alguns olhares
e pouquíssimas dezenas de beijos impulsivos...

Isso não é nada
Eu não ligo mais pra isso.
Nem toco mais nesse assunto.
Não digo mais nada a ela.
Ela que cuide da sua própria vida.


- Pra quê você foi inventar de sair?
 ... hein?