sexta-feira, 27 de maio de 2011

Vai

Grudada no caule vivia aquela folha
Cansada de ser mal aproveitada
Resolveu cortar o mal pela raiz
Fez fotossíntese em sua vida.

Separou-se do tronco que a pertencia
Despediu-se de quem merecia o seu adeus
Enxugou-se do orvalho da madrugada
E seguiu viagem.

Seu destino era incerto
Como eram seus pensamentos
Como tinha sido sua vida até esse momento

Não estava mais presa
O vento não prende
Dissipa
Empurra
Refresca
E nas mãos do vento ela se sentia mais feliz.

Na dúvida, vá.
Se não gostar, já sabe por onde voltar.



quinta-feira, 19 de maio de 2011

Sê lago, não corredeira

A pequena pedra que viaja nas corredeiras do rio não tem tempo para observar o ambiente
A velocidade é grande. Muitas coisas passam despercebidas em sua vida.
A sua vida se resume a essa viagem.
De relance em relance vultos de galhos, de animais, de rochas e pessoas...

Não há tempo.

A pedrinha podia esperar um pouco

...por um momento mais oportuno
...por uma forma mais adequada
...por um caminho mais seguro
...por uma parceira que lhe desse a mão

Mas ela não esperou.

A sua ansiedade a levou corredeira abaixo
Nem tempo teve ela de responder o aceno do lago que estava bem ali do lado.
O lago te daria tempo para observar a paisagem
Acalmaria a sua mente
Faria suas águas de espelho quando você quisesse se enxergar
Viraria cenário para todos os seus sonhos.

Tenha calma.

Sê lago, não corredeira.


Escuro

Eu estou escrevendo no escuro.
Mas é no escuro mesmo.

Não é força de expressão.

Não tem metáfora alguma.

Engraçado.. escrever no escuro é como escrever no claro. Não muda muita coisa, já que minhas idéias há tempos andam no escuro.

Andam, não. Se batem, se amontoam, tropeçam e fazem a maior bagunça entre elas.

Como será escrever no claro?

Quando a luz do escuro se apagar, eu vou saber.

Enquanto isso... Escrever no escurecer.



terça-feira, 17 de maio de 2011

Veia Cômica

Um garoto qualquer levantou super cedo para fazer um exame nada qualquer: o de sangue.


- Ei, mocinho! Prefere a agulhada no braço direito ou esquerdo? 
                 Perguntou a sorridente professora.


- No que estiver tremendo menos. 
                 Respondeu tremelicando o rapazinho.


- Xii... então terei que esperar horas.
                  Tentou fazer graça a enfermeira, que já não mostrava todos os seus dentes no sorriso.


Contrariando sua fala anterior, Lúcia, numa velocidade anormal, engatou todas as ampolas deixando as seringas com um ar criminoso.


O garoto se transformou diante dessa situação: ficou estático. 


Enquanto o álcool esfriava o braço do garoto, Lúcia parecia ter bebido litros e litros. Sua gargalhada já ecoava por toda a clínica.


Não havia saída diante daquela situação. O jeito era entregar todos seus glóbulos coloridos àquela mulher-da-seringa-na-mão.


- Fique com o braço parado. Não se mexa! 
                    Aconselhou num tom ameaçador a gentil enfermeira.


Como se ele fosse se mexer!


Na primeira tentativa, nada. Parece que a veia tinha dado um drible na seringa 1. Vieram mais cinco tentativas com a mesma seringa e o baile da veia continuava.


- O que está acontecendo?
                    Já enraivecida, bradou Lúcia.


- O que está acontecendo?
                    Com medo de represálias ao falar, pronunciou em sua mente o menino. 


Descontente, a enfermeira fechou a clínica. Desmarcou todos os pacientes do dia, trancou a porta, escureceu a sala, foi no cofre e pegou as perigosas seringas de titânio revestido de mercúrio, fósforo, cobre e zinco (o titânio) e ouro, prata, bronze, cobalto e granito (as seringas). 


- Agora vamos acabar com isso!
                   Gritou no ouvido esquerdo do pobre garoto que com certeza deve ter ficado surdo diante de tantos decibéis.


Com suas seringas a mão, Lúcia mergulhou toda a sua vontade nos dois braços do garoto ao mesmo tempo.


As quatro seringas foram ludibriadas pela veia do garoto mais uma vez. 10 seringas! Nova tentativa... era quase um "braçocídio" que a enfermeira queria cometer, mas de novo as seringas caíram no samba.


Depois de tanto esforço, Lúcia desistiu e largou lá o garoto e a sua veia....


... Cômica.

Canções

Caetano cantava em Paris
a mesma música que eu assobiava na infância.


Por um amor assim delicado... a gente faz tudo
[inclusive nada]


Se a canção é de verdade
Há de ser cantarolada em diversos corações




Gadú encantava em Lisboa
com a mesma canção que eu mal conhecia há um ano atrás


Todos caminhos trilham pra gente se ver
...se encontrar, se desviar e novamente se achar


Se a canção é de verdade
Há de ser cantarolada em diversos corações




Ivan poetizava em Salvador
Os versos mais singelos que já pude escutar.


Vieste, vieste de forma tão especial
...que preferi guardá-los para um momento que os merecessem


Se a canção é de verdade
Há de ser cantarolada, uma única vez, num só coração.

Vontade

Quando ela passa, pode ter certeza que vai demorar pra voltar.

Mas você também é culpado pela sua saída "inesperada".

Tem que preparar o terreno, fazer sala e esperar ansioso pela sua ilustre visita.

Tem vezes que ela demora de chegar deixando todo mundo desesperado ou sonolento.

Mas também tem dias que ela vem numa velocidade gigantesca

E do mesmo jeito que chega

Vai.

Mas como segurá-la? É tão difícil assim?

Prática, disciplina e persistência.

Agindo assim pode ter certeza que ela sempre estará com você.


quarta-feira, 4 de maio de 2011

Nada, Romântico!?

Não vou abusar do romantismo

Nem vou tecer singelos comentários sobre você

Também sei que não devo te encher de flores

Tampouco te lambuzar de bombons

Estourar champagne para os nossos brindes está fora de questão
[Mesmo em datas comemorativas]

Falar baixinho no seu ouvido não é uma boa idéia

Gritar aos sete ventos o meu sentimento? Piorou!

Com uma aliança na mão te pedir em casamento não deve ser a solução

Quem sabe na outra mão um anel de noivado... será que resolve?

Absolutamente!

E depois de tantos pensamentos, lá foi ele preparar a sua serenata ultra romântica, recheada de bombons, flores, champagne...

... berrou, agora aos oito ventos, o quanto a amava, em em fração de segundos a pediu em noivado, e antes mesmo da resposta ser pronunciada, casou-se.