sábado, 10 de dezembro de 2011

Poesia

No início havia poesia
Tinturava a sua história no papel
Preenchia com linhas os momentos não vividos
E rasurava com força os amores que não vingaram
De tanto rasurar rompeu-se.

Por não entender o caminho que deveria seguir
Entendeu que deveria mudar
Aqui ou ali, sabe-se lá

Tapou os ouvidos para os conselhos amigos
Cegou-se diante de qualquer expressão artística
Calou a boca de todos com o seu silêncio

E quando todos já o achavam bem radical
Decidiu cometer uma atrocidade nunca antes imaginada
Matou aquela que tinha sido durante toda a sua vida
A sua única verdadeira amada:
A Poesia

Com um sangue nada quente partiu estrofes em vários pedaços
Até hoje resquícios são encontrados em terrenos não mais férteis
Amordaçou rimas e amarrou músicas
E ainda não satisfeito
Acabou com o sonho de pequenos versos
De um dia se tornarem lindos sonetos

Porém por onde entra a crueldade
Entra de tudo.
E num deslize das forças apoéticas
Entreaberta tinha ficado a porta do seu coração.

Sorridentes confraternizavam aqueles que tinham conseguido
Remover a poesia do nosso “ex poeta”
A música entoada na tal festa parecia se dilatar compulsivamente
Frestas, cantos, espaços, salas, porta...
...Entreaberta!

E num súbito reencontro com a magia da poesia
Parecia acordar de um sonho
Que beirava um grande pesadelo.

Por via das dúvidas:
Sinal da Cruz, terço, rezas...
Passes, meditação, mapa astral...
Caminho de Santiago, Jerusalém, Orixás...

Munido de energia, livros e Poesia
Percebeu que o seu caminho era a trilha do amor
E satisfeito com a descoberta
Voltou a compor.