sábado, 10 de dezembro de 2011

Poesia

No início havia poesia
Tinturava a sua história no papel
Preenchia com linhas os momentos não vividos
E rasurava com força os amores que não vingaram
De tanto rasurar rompeu-se.

Por não entender o caminho que deveria seguir
Entendeu que deveria mudar
Aqui ou ali, sabe-se lá

Tapou os ouvidos para os conselhos amigos
Cegou-se diante de qualquer expressão artística
Calou a boca de todos com o seu silêncio

E quando todos já o achavam bem radical
Decidiu cometer uma atrocidade nunca antes imaginada
Matou aquela que tinha sido durante toda a sua vida
A sua única verdadeira amada:
A Poesia

Com um sangue nada quente partiu estrofes em vários pedaços
Até hoje resquícios são encontrados em terrenos não mais férteis
Amordaçou rimas e amarrou músicas
E ainda não satisfeito
Acabou com o sonho de pequenos versos
De um dia se tornarem lindos sonetos

Porém por onde entra a crueldade
Entra de tudo.
E num deslize das forças apoéticas
Entreaberta tinha ficado a porta do seu coração.

Sorridentes confraternizavam aqueles que tinham conseguido
Remover a poesia do nosso “ex poeta”
A música entoada na tal festa parecia se dilatar compulsivamente
Frestas, cantos, espaços, salas, porta...
...Entreaberta!

E num súbito reencontro com a magia da poesia
Parecia acordar de um sonho
Que beirava um grande pesadelo.

Por via das dúvidas:
Sinal da Cruz, terço, rezas...
Passes, meditação, mapa astral...
Caminho de Santiago, Jerusalém, Orixás...

Munido de energia, livros e Poesia
Percebeu que o seu caminho era a trilha do amor
E satisfeito com a descoberta
Voltou a compor.



sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Plastificada

Bem plastificada era como o jovem sedutor a desejava
Qualquer outro ar, que não o saído de seus pulmões
Intruso era considerado
Quando aereamente tentava dar o ar de sua graça

Ninguém por perto chegava
Longe estavam todos os pretendentes
Assim como o verdadeiro sentimento
Do seu plastificado amor

O jovem que tanto arquitetou
Parecia estar cada vez mais seduzido
Pela sua aprisionada paixão
Como prova de paciência e bondade

Retirava tal invólucro todas as manhãs
E curtia assim o seu estático momento de amar

Mas quando aromas vizinhos eram sentidos
Rapidamente em tardes transformavam-se as manhãs
E o seu amor voltava inerte ao seu estado bruto
Plastificado

De tanto respirar
Parecia sobreviver a cada dia
O seu amor
E num súbito desejo irrefreado
O jovem enamorado
Mais uma vez desnudou
Sem pudor

E aquele que seria o seu amor
Dessa vez mal era vista
Nem respirava
Já inexistia

Sumiu.


domingo, 6 de novembro de 2011

Retorcidos Sonhos

Descalça andava a confiança do forasteiro.

Numa corrida com a sorte
Para trás ficara
Antes mesmo do tiro inicial

Depois de tantas quedas
Pular barreiras era difícil
Transpor, impossível

Decidiu mudar de lado
Deu as mãos ao azar
E seguiu tortuosamente em linha reta
Até a última curva de sua vida.

Antes da derradeira virada
Lembrou-se do que havia catado
Em muitas das suas paradas:
Eram objetos, palavras e carinho.
Eram beijos, moedas e desejos.
Eram sonhos retorcidos, mas eram sonhos.

Estes dividiam espaço na poeira do seu bolso
De que matéria eram feitos?
Não se sabia.
Nunca se soube.
Mas sabe-se que sofriam de insônia. Isso sim.

Para o seu bem ainda estavam acordados
Mesmo depois de tudo que lhe ocorrera
Seus sonhos sofriam de insônia
Assim como a sua vontade
Como os seus desejos
Como o seu ímpeto que parecia deixar a latência de lado.

Eram retorcidos, empoeirados, quase esquecidos...
... Mas eram sonhos.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Menino

Era menino

O tempo envelhecia
As folhas caíam

Era menino

As ideias mudavam
Fotos amarelavam
E desde menino aprendera as verdades
Que o vento da infância nunca ousou levar

E agora, que já era um menino
Sabia a quem devia agradecer
A quem devia contemplar
A quem devia, pelo menos mais uma vez
Fitar com o seu olhar.

Mesmo acostumado a ver com os olhos das flores
Decidiu mais uma vez mergulhar em sua poesia.

O menino, que desde menino, aprendera a amar
Encantou-se, como se fosse a primeira vez
Por aquele tão velho luar.

Já estava horas naquela posição
Anos até se tornar um menino.
E depois de tanto sentir
Percebeu que o principal brilho não vinha dali.

A sua então adorada refletia
Contemplava o verdadeiro luar.
Curioso, o agora menino vestiu-se de destemido
E foi um outro luar procurar

Despiu-se da antiga roupa
logo que avistou ao longe um pequeno palco
Num ato de pura sensibilidade
Percebeu de onde brotara a sua inspiração
Nos passos da misteriosa lua
Que pintava de colorido o tablado com as suas sapatilhas.

A deslizar, o menino não tinha mais dúvidas
Era sob aquele luar que ele se sentia em casa
Sensação gostosa, íntima.
Tocou piano enquanto a sua lua dançava

Assim ficaram.
E juntos tornaram-se meninos.




quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Numa Vale Escura Esqueci Meu Coração

Numa vala escura esqueci meu coração
No lugar, ficou apenas um buraco
Sentimentos foram abocanhados
Compaixões desidratadas
E o amor, se mudou...
[Pois ali, já não dava]

Nesse deserto de sensações
Minha vida tornou-se opaca
Até meu eu lírico, nos ensaios
Como tenor cantava

Gritos desafinados eram entoados
A fim de alcançar meu perdido coração
Mas de nada valia tremendo esforço
Já que noutra freguesia batia desde então

Todo sentimento cabia naquele coração
De tanto bater, clareou a vala escura
De tanto irrigar, limpou
De tanto bombear, transformou-a num lindo caminho
Que todos haviam um dia de trilhar

E vendo de perto os feitos do meu coração
Como haveria eu de triste ficar?
Orgulhoso de uma parte de mim
Decidi aquele triste buraco fechar

Com as flores nascidas da antiga vala
Tapei sem hesitar a minha escuridão
Os sentimentos voltaram à tona
E logo encontrei em mim um novo coração.


sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Promessas

Seguindo os grãozinhos de arroz deixados na terra molhada
O jovem forasteiro parecia voltar ao lugar onde tudo começou
Acompanhado por suas promessas cabisbaixas
Jurou mais uma vez que nunca mais.

Mais nunca devia se aventurar por terras próximas
Às distantes também não, pois tinha terminado o estoque de arroz
Desacompanhado por sua essência
Prometeu pela primeira vez que era o fim dos seus planos.

Mas como ele não era confiável
Enganou a si mesmo
E se sentindo o pior dos falsários inverteu a estrofe anterior
Seguiu viagem

Dessa vez escolheu o caminho que mais lhe convinha
Sem preocupação, sem grãos, sem limites
Parecia finalmente ter encontrado o seu caminho
E prometeu nunca mais se desviar dele.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

In Acabado

No meio de uma futura linda canção
o cantor se cala

Ao mesmo tempo o aspirante a Picasso
debruça sob o chão o seu cansado pincel
após um nada grande esforço

Como olhando a vida alheia
a bailarina pausa seu plié
que já não estava tão limpo assim

Para não se sentir tão sozinho
como o seu personagem
O ator deixa o palco antes do segundo ato
e se junta aos seus outros amigos pseudo artistas
E como eles frustra a platéia...
...durante toda a sua vida.

E o escritor pseudo inacaba o poema.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Sua Luz

Sentado à beira do fim da vida
O pobre homem lastimava
O quanto foi insossa tal existência

Pedrinhas despretensiosas no lago
Afundavam todas as memórias boas que ele ainda tinha

E tudo não era de agora
O declive ascendia a cada passo mal dado

Seus buracos colecionados no decorrer da vida
Tornaram-se o precipício amedrontador de hoje

Várias foram as chances dadas em forma de Luz
Diversos foram os “nãos” em tons de rejeição a qualquer Ajuda
...Divina, Celestial e Maternal.

A verdade é que suas mãos nunca foram bem usadas
Suas palmas nunca se conheceram
Sua Luz nunca foi acesa
Seu coração, irrigado por si.

Aquele que lhe deu as mãos e o coração
Nunca lhe negou a Luz
Sempre lhe procurou, lhe acenou, lhe sorriu
Mas você sempre apagava qualquer oportunidade

E agora,
O que fazer na escuridão de seus pensamentos?
Se há algum espaço para mudanças...
Uma lacuna de arrependimento...
Aproveite.

Pois qualquer fagulha de verdade pode incandescer um coração gélido
Uma centelha de amor pode sim, iluminar qualquer escuridão
Qualquer crença do bem pode aproximar as palmas de sua mão em tom de oração   
A Luz sempre estará acesa
Ilumine-se

Em pé à beira do recomeço da vida
O feliz homem sorria
Diante de tão deliciosa existência



sábado, 30 de julho de 2011

O Segredo de Toledo

O Sol raiou nublado num dia de festa.

As nuvens em formato de bolo e olhos-de-sogra enfeitavam o céu daquela cidade.

Parecia que o seu aniversário seria um sucesso.

O telefone, em seu primeiro toque do dia, revelava que algo estava estranho.

Toledo pulou da cama como um atleta de salto triplo em plena atividade Olímpica. Antes que desse o segundo toque, o aparelho foi calado pelos punhos treinados do aniversariante.

- Sim!

- Alô!

- Não, pode falar. O que deseja?

- Desejo que o seu aniversário seja um fiasco... Que o senhor tenha um péssimo dia... Também quero que você tenha muita tristeza, muito azar e que lhe falte saúde pelo resto de sua vida... Esses são os meus encarecidos votos para você, meu rapaz.

- Ah, obrigado... Pro senhor também. Abraços.

E voltou para a cama.

Realmente este dia prometia ser inesquecível. Após receber seus primeiros parabéns, Toledo terminava a soneca num ronco de felicidade.

Antes que o despertador atrasasse como em todos os dias, suas olheiras indicavam que preparar um bolo de aniversário durante a madrugada não fazia muito bem a saúde.

Numa encruzilhada próxima do seu trabalho o rapaz conseguiu todos os ingredientes para a guloseima.

De 7 dias era a vela que completava um dos momentos mais inesquecíveis que ele viveria...
...Se vivesse até o horário da festa.

E assim ele termina a primeira página de sua biografia deixando todos os leitores curiosos.



quarta-feira, 20 de julho de 2011

Movimentos

Enquanto a Terra se esquiva do sedentarismo todos os dias

Muitos não seguem o “pique” do planeta.

A cada rotação é comum alguns ficarem de ponta-cabeça

Esperando que os seus objetivos caiam do céu.


Como não caem assim tão facilmente

Ficam desolados na companhia da chuva,

Do granizo, da poeira e de algumas estrelas

Que uma vez ou outra mergulham sob o solo.


Há ainda aqueles que pegam carona na translação

Sonhando inertes que tudo gira em torno de seu centro

Pobres coitados da Síndrome Solar

Para realizarem seus sonhos muito há de garimpar


Não precisa ser tão criativo, original ou genial

Imitar o planeta já basta

Criar hábitos, disciplina e comprometimento

Pode ser a solução


Siga em frente

Sempre



terça-feira, 12 de julho de 2011

Moinho

Já devia ter sido moído feito cana
Até houve tentativa
Houve como
Mas nada foi feito

Despedaçar o passado não é assim tão fácil
Pedaços de impureza ainda resistem
Bagaços do que passou
Se juntam ao gosto do sumo que ainda é sentido

Já devia ter sido moído feito grão
Se transformado em qualquer coisa
Menos em sua própria obra-prima mais uma vez
Sem graça se transformar no que já era

Mas o passado ri
Diante da preocupação do presente
Em viver um futuro melhor.



quarta-feira, 6 de julho de 2011

O Colecionador

Nasceu

Conheceu o médico e a mãe 
Ensaiou um olá para as enfermeiras
Depois foi apresentado ao seu pai

A partir desses acontecimentos tão triviais
Percebeu o quanto era divertido conhecer

Professoras, colegas,
tios, primos e avós
Todos  cabiam em seu baú

Quando perguntado o que queria ser quando crescesse
Sem titubear dizia:
"Colecionador
... de pessoas"

 E seguiu em seu intento

Namoradas coloriam seu álbum
Amigos passavam como vento
Conhecidos se amontoavam em agendas antigas
Números de telefone adornavam a parede do seu quarto

Conhecia todos
Ninguém o conhecia

Envolvimentos profundos
[com duração máxima de 3 minutos]
eram os seus preferidos

Decidiu ser o maior dos colecionadores
Em diversos cursos ingressou
Novos professores, colegas, paqueras, fiscais, funcionários
Mais gente para ser adicionada à sua complicada planilha de pessoas.

E o álbum de figurinhas foi crescendo.
Atravessou fronteiras.
Até o Facebook ajudava na tal missão.
Que rapaz determinado!

O tempo passou.
Conheceu o chefe
O Sócio
A Noiva
O Padre
A Esposa
O Sogro
Os Netos
...

Conhecia todos
Ninguém o conhecia
Nem ele mesmo

E conheceu o coveiro.


terça-feira, 28 de junho de 2011

Tem gente que é pra sempre

Na alternância entre Sol e Lua no céu

Muito acontece na vida da gente
Pessoas surgem sabendo que em breve vão sumir
Mas outras somem tendo no coração que um dia vão voltar.

Nem sempre um luar traz momentos românticos
Nem sempre um término termina um sentimento
Nem sempre é pra sempre.

Como numa grande mágica a gente vai se encontrando na vida
Truques aqui, cartinhas na manga, pombos que viram flores
E flores que viram você.
O Mágico nunca revela os seus segredos.
Cabe a nós vivermos essa magia
...pelo menos até quando a mágica durar.

Há muitas pessoas por ai.
Muitas.
Sentir pulsar o coração por uma delas faz parte da mágica.
É a magia da vida.

Em algum momento da sua vida se pulsou o coração
Saiba que viveu a mais bela das magias.
E à pessoa que lhe fez pulsar
Sorria sempre que o encontrar em seus pensamentos.

Ao fim de tudo a magia deixa coisas boas
Os agraciados nem sabem ao certo o que sentem
Memórias do que passou se chocam com as incertezas do futuro
Mas uma coisa é certa:
Tem gente que é pra sempre.


sábado, 18 de junho de 2011

Em Stand By

Tinha apertado OFF em seu remoto controle da vida

Há tempos que as suas imagens estavam retorcidas, ora nubladas, ora chuviscadas, ora inundadas por um vazio, que metaforicamente lembrava um canal fora do ar...


Por falta de sintonia seu namoro conhecera o abismo na programação da semana passada
Não tinha antena que desse jeito àquela situação.


Técnicos para manutenção foram chamados...
parabólicas compradas, nova fiação aterrada...


Mas a imagem, como num ato tímido, escondia-se por trás dela mesma.
Seu telespectador carecia de nitidez, de cor...
e o brilho tampouco era visto em seus olhos.


Cansado de "batidinhas" na TV, de mudanças de posição
Decidiu ficar ali se assistindo no reflexo da tela


Em algum momento talvez ele percebesse o quanto era péssimo tal programa.


Mas enquanto isso continuaria em Stand by
Esperando que a imagem voltasse.



A Espera

Não esperava Godot, nem ônibus, trem ou dinheiro para entrar na conta.
Mas também não era a "espera pela espera". 
Tinha lá um sentido tudo isso, um significado que para nós, talvez não significasse nada.

Aos 15 surpreendeu a todos e saiu de casa com sua mochila cheia de nenhuma experiência.
Perguntado sobre o que faria a partir desse momento, respondeu: "esperar".

Dotado de um espírito ermitão isolou-se no alto daquilo que ele achou mais alto. E no topo de uma mangueira fez sua morada.

Aos 20 se alimentava apenas de banana, pois o seu ótimo faro vertical aconselhava-o a se mudar para a bananeira, que além de mais alta e bonita, tornaria a espera mais aconchegante.

Quando sua barba já batia na raiz da árvore
Percebeu como o tempo tinha passado enquanto ele esperava.
Debilitado lembrou-se das inúmeras pessoas que tinham implorado para ele voltar pra casa.
              ...lembrou-se também do sorriso de seus pais que ele não presenciou
              ... dos lábios de sua esposa que ele não conheceu
              ... dos filhos que ele não teve
              ... das valsas não dançadas
              ... das mangas não arregaçadas
              ... da vida que ele não viveu apenas por esperar o seu destino.

Não economize momentos.
Nunca. 
              

  

terça-feira, 7 de junho de 2011

Após o TILT a vida sempre dá um UP

Escolheu um caminho
e foi
Bifurcação na estrada
Na dúvida entre direita e esquerda
...preferiu seguir reto.


Não se preocupava com que o poderia encontrar
Pisava fundo mesmo sem sentir os pés
Suas pegadas um dia seriam encontradas
Por alguém que também resolvesse seguir
sem medo
o seu destino.

A estrada é que tinha lhe escolhido.
Se voltasse
...apenas adiaria.
Como bom sagitariano, intuía que o caminho valia muito mais que a chegada.

Sem desespero
O tormento vai sim lhe encontrar
Não se engane
Há muito acostamento cheio de mato
Pra lhe assustar.

Mas o que lhe amedronta também ensina.
O que lhe faz chorar fortalece
Apreenda tudo que for possível
O que não for, apenas sinta.

Há muita estrada, muito chão
Diversos caminhos
Várias rotas, alguns trajetos
Mas apenas um sentido:

O Seu sentido. 

Experimente, siga, persista e faça o favor de não desistir.
Lembre-se que há sempre uma forma, uma saída, uma solução.
Após o TILT a vida sempre dá um UP


quarta-feira, 1 de junho de 2011

Ai, que saudade de você

Olá, como você está?
Puxa, faz tanto tempo que eu não lhe vejo
É... você mudou muito
Nem parece a mesma pessoa.

Eu sei que agi errado
Não cuidei de você
Te maltratei
Não fiz o combinado.

E se você voltasse pra mim?
Mas com aquele sorriso...
Sabe, tua alegria faz falta
Suas gracinhas também.

Não tire de si o que já é seu
Ai, que saudade de você.

... e sai da sala deixando à vista um grande espelho.



sexta-feira, 27 de maio de 2011

Vai

Grudada no caule vivia aquela folha
Cansada de ser mal aproveitada
Resolveu cortar o mal pela raiz
Fez fotossíntese em sua vida.

Separou-se do tronco que a pertencia
Despediu-se de quem merecia o seu adeus
Enxugou-se do orvalho da madrugada
E seguiu viagem.

Seu destino era incerto
Como eram seus pensamentos
Como tinha sido sua vida até esse momento

Não estava mais presa
O vento não prende
Dissipa
Empurra
Refresca
E nas mãos do vento ela se sentia mais feliz.

Na dúvida, vá.
Se não gostar, já sabe por onde voltar.



quinta-feira, 19 de maio de 2011

Sê lago, não corredeira

A pequena pedra que viaja nas corredeiras do rio não tem tempo para observar o ambiente
A velocidade é grande. Muitas coisas passam despercebidas em sua vida.
A sua vida se resume a essa viagem.
De relance em relance vultos de galhos, de animais, de rochas e pessoas...

Não há tempo.

A pedrinha podia esperar um pouco

...por um momento mais oportuno
...por uma forma mais adequada
...por um caminho mais seguro
...por uma parceira que lhe desse a mão

Mas ela não esperou.

A sua ansiedade a levou corredeira abaixo
Nem tempo teve ela de responder o aceno do lago que estava bem ali do lado.
O lago te daria tempo para observar a paisagem
Acalmaria a sua mente
Faria suas águas de espelho quando você quisesse se enxergar
Viraria cenário para todos os seus sonhos.

Tenha calma.

Sê lago, não corredeira.


Escuro

Eu estou escrevendo no escuro.
Mas é no escuro mesmo.

Não é força de expressão.

Não tem metáfora alguma.

Engraçado.. escrever no escuro é como escrever no claro. Não muda muita coisa, já que minhas idéias há tempos andam no escuro.

Andam, não. Se batem, se amontoam, tropeçam e fazem a maior bagunça entre elas.

Como será escrever no claro?

Quando a luz do escuro se apagar, eu vou saber.

Enquanto isso... Escrever no escurecer.



terça-feira, 17 de maio de 2011

Veia Cômica

Um garoto qualquer levantou super cedo para fazer um exame nada qualquer: o de sangue.


- Ei, mocinho! Prefere a agulhada no braço direito ou esquerdo? 
                 Perguntou a sorridente professora.


- No que estiver tremendo menos. 
                 Respondeu tremelicando o rapazinho.


- Xii... então terei que esperar horas.
                  Tentou fazer graça a enfermeira, que já não mostrava todos os seus dentes no sorriso.


Contrariando sua fala anterior, Lúcia, numa velocidade anormal, engatou todas as ampolas deixando as seringas com um ar criminoso.


O garoto se transformou diante dessa situação: ficou estático. 


Enquanto o álcool esfriava o braço do garoto, Lúcia parecia ter bebido litros e litros. Sua gargalhada já ecoava por toda a clínica.


Não havia saída diante daquela situação. O jeito era entregar todos seus glóbulos coloridos àquela mulher-da-seringa-na-mão.


- Fique com o braço parado. Não se mexa! 
                    Aconselhou num tom ameaçador a gentil enfermeira.


Como se ele fosse se mexer!


Na primeira tentativa, nada. Parece que a veia tinha dado um drible na seringa 1. Vieram mais cinco tentativas com a mesma seringa e o baile da veia continuava.


- O que está acontecendo?
                    Já enraivecida, bradou Lúcia.


- O que está acontecendo?
                    Com medo de represálias ao falar, pronunciou em sua mente o menino. 


Descontente, a enfermeira fechou a clínica. Desmarcou todos os pacientes do dia, trancou a porta, escureceu a sala, foi no cofre e pegou as perigosas seringas de titânio revestido de mercúrio, fósforo, cobre e zinco (o titânio) e ouro, prata, bronze, cobalto e granito (as seringas). 


- Agora vamos acabar com isso!
                   Gritou no ouvido esquerdo do pobre garoto que com certeza deve ter ficado surdo diante de tantos decibéis.


Com suas seringas a mão, Lúcia mergulhou toda a sua vontade nos dois braços do garoto ao mesmo tempo.


As quatro seringas foram ludibriadas pela veia do garoto mais uma vez. 10 seringas! Nova tentativa... era quase um "braçocídio" que a enfermeira queria cometer, mas de novo as seringas caíram no samba.


Depois de tanto esforço, Lúcia desistiu e largou lá o garoto e a sua veia....


... Cômica.

Canções

Caetano cantava em Paris
a mesma música que eu assobiava na infância.


Por um amor assim delicado... a gente faz tudo
[inclusive nada]


Se a canção é de verdade
Há de ser cantarolada em diversos corações




Gadú encantava em Lisboa
com a mesma canção que eu mal conhecia há um ano atrás


Todos caminhos trilham pra gente se ver
...se encontrar, se desviar e novamente se achar


Se a canção é de verdade
Há de ser cantarolada em diversos corações




Ivan poetizava em Salvador
Os versos mais singelos que já pude escutar.


Vieste, vieste de forma tão especial
...que preferi guardá-los para um momento que os merecessem


Se a canção é de verdade
Há de ser cantarolada, uma única vez, num só coração.

Vontade

Quando ela passa, pode ter certeza que vai demorar pra voltar.

Mas você também é culpado pela sua saída "inesperada".

Tem que preparar o terreno, fazer sala e esperar ansioso pela sua ilustre visita.

Tem vezes que ela demora de chegar deixando todo mundo desesperado ou sonolento.

Mas também tem dias que ela vem numa velocidade gigantesca

E do mesmo jeito que chega

Vai.

Mas como segurá-la? É tão difícil assim?

Prática, disciplina e persistência.

Agindo assim pode ter certeza que ela sempre estará com você.


quarta-feira, 4 de maio de 2011

Nada, Romântico!?

Não vou abusar do romantismo

Nem vou tecer singelos comentários sobre você

Também sei que não devo te encher de flores

Tampouco te lambuzar de bombons

Estourar champagne para os nossos brindes está fora de questão
[Mesmo em datas comemorativas]

Falar baixinho no seu ouvido não é uma boa idéia

Gritar aos sete ventos o meu sentimento? Piorou!

Com uma aliança na mão te pedir em casamento não deve ser a solução

Quem sabe na outra mão um anel de noivado... será que resolve?

Absolutamente!

E depois de tantos pensamentos, lá foi ele preparar a sua serenata ultra romântica, recheada de bombons, flores, champagne...

... berrou, agora aos oito ventos, o quanto a amava, em em fração de segundos a pediu em noivado, e antes mesmo da resposta ser pronunciada, casou-se.





terça-feira, 26 de abril de 2011

Reescritor

Parecia que nem sabia
E realmente não sabia
E de tanto não saber
Invadiu o pedaço de papel
[Que descansava em sono estático]
Com uma cortante
BIC cheia de azul para dar e vender
Era todo dia a mesma coisa
Pilhas e pilhas de informações sem nexo
Ele pousava
Aterrissava
Todas suas não-criativas idéias
Naquilo que quando era madeira...
Ah... Valia muito mais.
Os parágrafos se amontoavam
As cargas de caneta também
Os papéis depois de escrito ficavam mais vazios do que quando eram virgens.
As palavras feriam sem dó
Cada pedacinho de papel
[que corajosamente ainda esperava a picada da agulha de tinta]
Sentia na pele
Na sua textura
As loucas idéias do seu escritor, do seu re-escritor


segunda-feira, 25 de abril de 2011

Me Apetece


Quando um bocadinho de tempo passa
e transforma em passado a noite bem amada
Apetecer conjugo em mente
durante todo dia, pá
...que vem pela frente

-Que giro verbo
Penso, enquanto a girar
em noite transforma-se a tarde
em presente o passado, mais uma vez...
... e mais uma vez posso dizer:

Me apetece você!


quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

O Sono me f u g i u

O Sono me fugiu quando num momento sonolento o perdi de vista.

Onde ele estava?

- Malcriado!!!!! Eu o chamava,

quando sorrateiramente o espreitava da janela de casa.

Ele se se encontrava dormindo o sono dos injustos
em casas que não me pertenciam.

Ah, danado.... próxima noite te pego... te coloco no eixo...

nessa não dá mais... me traiste com outro rapaz...

e com outra moça.... e com outro rapaz... e com crianças...

e com idosos... e com o cachorro que há pouco ladrava pela madrugada...

até com porteiros..... do meu prédio, inclusive...

ai , ai, ai ...

A próxima noite há de chegar.....

triiiiimmmmm trimmmmmmmmm