quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Em meu Picadeiro

Percorria as mais distantes cidades
Com seu circo nas costas
Cada pedaço habitado de terra
Trazia consigo a oportunidade
Daquele bobo palhaço mostrar o seu show.

Cada ida transformava-se em vinda
Cada estrada, num retorno
Diante dos escassos aplausos da vida
Fazia das mímicas, coração
E das incertezas, oração.

Chegando numa cidade qualquer
Sabia que tinha pouco tempo para tudo
Seu coração batia em contagem regressiva
Não podia sequer se apaixonar
Era um palhaço
Apenas fazia rir.

Enquanto organizava a maquiagem
Subia a lona para a apresentação de mais tarde
Ele não viajava tão sozinho assim
Malabarista, domador, mágico e contorcionista
Todos estavam com ele
E ao mesmo tempo estava sozinho
Tinha um picadeiro em seu coração
Divertia a todos
Doava toda a sua alegria
E pouco lhe restava depois da boa ação

Seu circo não era tão grande assim.
Ainda faltava
Não sabia o quê, mas faltava.

Numa dessas cidades que teimam em não estar por perto
Seu picadeiro coloriu-se
O vermelho de seu nariz infestava como que por completo o seu coração
Diante de tudo isso
Ele gargalhava
Ria
Afinal de contas... Palhaço!

Pela primeira vez na vida parecia levar algo a serio
Decidiu fincar sua lona num só lugar
Se apossou dos malabares para assustar outros pretendentes de sua amada
Aprendeu mágicas para diverti-la
E prometeu fazer dela a mais amada, a sua sagrada.

E com tantas promessas, com tantos juramentos
Esqueceu-se do seu circo.
Do seu picadeiro.
Lá podia ter tudo...
Mas faltava equilibrista

Palavras desequilibradas pendiam de um lado pro outro
Incertezas dominavam
Juramentos assustavam
Promessas já de nada valiam

E antes do término do espetáculo
O equilibrista cai
...Em seu picadeiro.