Em cima da mesa, no canto da
porta entreaberta
Sobre uma leve pintura que despistava
o passado
Adormecia a única folha de
papel
Que não tinha sido arremessada
para longe dos domínios do velho escritor
As suas vizinhas tinham sido
transformadas em cartas, bilhetes, papeis que adornavam ramalhetes e
guardanapos
Nunca mais gastaria a pouca
força de seus punhos com movimentos que lembrassem qualquer forma de escrita
Nas madrugadas esquecia-se das
promessas feitas e lembrava seu passado de jovem escritor
Imaginava, como num sonho
lúdico, tudo que podia fazer dando luz a suas criações
Antes do ponto final decidiu se
aventurar no traiçoeiro jogo das palavras
Dessa vez se precaveu; afinal
de contas, ser reconhecido novamente, jamais.
Pseudônimo
Esqueceu-se de ser canhoto
E tratou de aprender novos
movimentos com a munheca.
Ele não poderia ser descoberto.
Uma imagem a zelar, um medo de
se expor e uma imensa vontade de perceber que alguém lhe dava valor.
Decidiu suprir sua carência
emocional namorando todas as palavras que surgiam em sua mente carente de
descanso.
Sentou-se na mesma poltrona de
antigamente com toda sua insegurança e sonho.
O lápis tinha vida própria na
mão do novo escritor que acabava de surgir. Mais um escritor no mundo, que
beleza!
Era um sujeito diferente,
ousado em suas artimanhas e capaz de expor toda profundeza que a sua aparente
superficialidade não demonstrava.
O assunto era sempre o mesmo.
Os personagens, repetidos. O enredo igual. Porém, canastrão como tal inventava
formas variadas, adornadas e enroladas de dizer a mesma coisa...
O mesmo assunto...
O mesmo sentimento...
“talvez me esconda nos meus
escritos
talvez
te esconda nos meus escritos”